Mundão véio sem porteira

Michel na SuiçaMichel, carioca da gema, foi criado em Minas. O “mundão véio sem porteira” sempre o fascinou. Em 2005, depois de acabar a faculdade no Brasil, foi morar e trabalhar na Austrália. Mas depois de alguns meses lá acabou conhecendo uma italianinha e se apaixonou. Hoje são casados, moram na terra dos relógios, chocolates e canivetes – a Suíça.

– Nome:
Michel Passos Zylberberg (é, nome de gringo! Meu avô era polonês – judeu – e fugiu da guerra com a família indo para o Brasil quando era criança).

– Onde nasceu e cresceu?
Nasci no Rio, mas por motivo de trabalho meu pai acabou se mudando pro sul de Minas (Itajubá), onde fui criado e morei até a época da faculdade.

– Em que país e cidade você mora?
Sempre fui apaixonado pelo mar, mas saí das montanhas mineiras e acabei vindo parar nos alpes! Moro em Solduno, na parte italiana da Suíça, pertinho da fronteira com a Itália.

– Você mora sozinho ou com sua familia?
Moro com a minha esposa.
Michel na Suiça

– Há quanto tempo você reside nesse local?
Moro na Suíça desde 2007 e nessa casa desde 2010 (não sou muito bom com datas!).

– Já residiu em outro(s) país(es) antes dessa experiencia?
Em 2001 passei quase um mês estudando em San Diego, nos Estados Unidos. Foi uma experiência bem legal. Mas só depois que acabei a faculdade, em 2005, que parti de vez para o mundo, indo morar na Austrália. O plano era ficar uns bons anos por lá, mas acabei conhecendo minha atual esposa e vim parar aqui na Suíça 🙂

– Qual sua idade?
30, muito bem vividos. Tão bem vividos que o corpinho é de 67! 🙂

– Quando surgiu a idéia de residir no exterior?
Meu pai sempre falou “a tua única obrigação é ter um diploma universitário, depois faz o que quiser da vida!” e levei ao pé da letra! Como para encontrar um bom emprego na minha área (design de multimídia) eu teria que morar em uma grande cidade no Brasil, assim que acabei a faculdade me mandei para a Austrália! A idéia era estudar inglês e trabalhar, juntando dinheiro para rodar pelo mundo!

– Foi difícil conseguir o visto de residência ou o visto de trabalho?
Eu só tenho passaporte brasileiro, então não ajudava muito. Ao ir pra Austrália acabei decidindo fazer o visto de estudante que permitia trabalhar legalmente por 20 horas na semana. O visto para a Austrália costuma ser um processo bem complicado, mas hoje existem muitas agências que fazem todo “trabalho sujo” e algumas não cobram nada.

– Você tem seguro saúde? Foi difícil obtê-lo antes ou depois da sua chegada?
Aqui na Suíça seguro saúde é obrigatório, não tem escapatória! Custam muito, mas basta escolher um dos planos e assinar contrato. É tranquilo.

– Você trabalha? Como a renda familiar é obtida?
Foi um percurso tão complicado que até escrevi uma série de posts no meu blog (leia aqui) falando sobre isso! Hoje eu trabalho em uma agência de publicidade, é um bom emprego. Mas já fiz de tudo nos lugares que passei e por aqui também! Trabalhos como lavar pratos, em bares, cortar lenha, limpar navio cargueiro, envelopar mala direta e coisas assim! Minha esposa trabalha em agência de viagens e mesmo não podendo fazer extravagâncias, vamos vivendo numa boa.
Michel na Suiça

– Se a resposta anterior foi sim, você mudou de área depois da saída do Brasil ou continua no mesmo setor?
Já falei um pouco sobre as minhas “aventuras” na resposta anterior. Quando vim para a Suíça não podia trabalhar, só depois que me casei, pois recebi automaticamente o visto de trabalho. Aí poucos meses depois do casamento uma agência de empregos me ligou dizendo que tinham uma vaga pra designer gráfico na GE (General Electric). Acabaram me selecionando, mesmo eu ainda não falando bem o italiano – falar inglês ajudou na seleção. Trabalhei lá por um ano, até que veio a crise e mesmo eles querendo que eu ficasse, acabei sendo despedido. Aí poucos meses depois acabei achando emprego em uma agência de comunicação pequena da minha cidade. Fiquei por lá um ano e acabei saindo por escolha minha. Alguns meses depois encontrei emprego em outra agência de publicidade – e é o meu atual emprego, que gosto muito.

– Você fala a língua local? Você acredita que é importante aprender a língua local?
Quando cheguei na Suíça minha esposa ainda morava na Zurique e eu não me adaptei. Não falo suíço-alemão até hoje, é muito difícil. Aí decidimos mudar para a parte italiana da Suíça (existem 4 línguas oficiais aqui), mesmo que eu não falasse italiano seria muito mais fácil aprender e os costumes italianos também são muito mais parecidos com os nossos! A decisão foi muito acertada e depois de poucos meses eu já falava bem italiano e estava totalmente adaptado! Eu também falo inglês, que acho mesmo fundamental para quem vai viajar por qualquer país do mundo. Gostaria de aprender mais línguas, mas os cursos aqui são muito caros.
É muito legal pensar que meu filho(a), desde cedo já vai falar pelo menos duas línguas! Minha esposa fala italiano, alemão, suíço-alemão, francês, inglês e agora português. É uma loucura! Aprenda quanto mais línguas puder!

– O que você pensa sobre seu novo país e o local onde mora (e/ou onde morou)? Eles respeitam os Brasileiros e outros expatriados vivendo nesse país?
Recentemente escrevi um post exatamente sobre esta pergunta (leia aqui), também já escrevi outros. É um assunto que gosto de refletir e compartilhar.
O preconceito aqui existe sim, pois brasileiro geralmente vem pra cá para o tal “sub-emprego”. E muitas – muitas mesmo – garotas se prostituem. Mas acho que depende muito de como a pessoa se comporta. Tem muito brasileiro que exagera, que acaba procurando confusão. Eu nunca tive problemas, até porque acho que em qualquer país existem os bons e os maus brasileiros. Existem aqueles quem trabalham pesado, ou os que só fazem merd*… cabe a você escolher qual deles ser.

– Você tem filhos? Se sim, eles se adaptaram ao novo país? Estudam e têm amigos locais?
Bom, a notícia ainda não foi amplamente divulgada, mas a minha esposa está grávida da nossa primeira filha. Então ainda vou ter que esperar um pouco para poder responder essas perguntas! Mas ainda sim acho que o problema não vai existir, somos muito tranquilos em relação às diferenças de culturas e boa parte dos problemas de adaptação partem dos próprios pais!

– Sente saudades da familia no Brasil? Sente falta de produtos, alimentos e outras peculiaridades?
Aqui na Suíça de fresco mesmo só o leite! O resto é tudo importado – e custa muito caro! Mas achei cervejas brasileiras, picanha e muitas outras coisas que, apesar de serem um buraco na minha conta do banco, me fazem matar a saudade. Família? Amigos? É impossível não sentir saudade, mas quase sempre conseguimos ir lá e muita gente passa por aqui para uma visita!
Michel na Suiça

– O que costuma fazer nas horas vagas, finais de semana e feriados? Quais as atividades recreacionais existentes?
Aqui tenho duas rotinas completamente diversas. No inverno eu quase não saio de casa, não faço nada. Saio muito pouco. Não tenho vontade de fazer nada, nem esporte, pois as academias são muito caras. Já no verão saimos sempre, fazemos pique-niques no lago, giros de bicicleta, nadamos no rio e no lago, jogo bola com os amigos… o bom churrasco também nunca falta, sempre com um bom pagode! Pena que o frio dure muito mais do que o calor!

– Você tem planos para o futuro? Pretende viver nesse país para sempre?
Para sempre não, mas não sei até quando. Vou ficando. Infelizmente a insegurança do Brasil é algo que não podemos negar. Você trabalha, ganha muito e vive com medo, trancado dentro de uma prisão domiciliar. Quando ando por aqui e vejo casas abertas, sem grandes nem nada, penso sempre na segurança que esquecemos de ter (leia aqui). Quero voltar ao Brasil, mas espero que o Brasil aproveite os grandes eventos dos próximos anos para crescer. Não o crescimento estatístico, mas o real. Qualidade de vida e segurança.

– Você comprou ou alugou o local que reside? Quanto pagou ou paga por isso? Comprar imoveis é algo comum nesse país?
Aqui aluguel também é um absurdo, preços incrivelmente altos! Existe uma máfia e não tem pra onde fugir. Pagamos cerca 3 mil reais pro mês de aluguel, então não queira saber quanto custa comprar uma casa ou apartamento!

– Qual o custo de vida?
O padrão de vida aqui reflete o custo. A única coisa positiva é que se pagamos os impostos, eles retornarão em investimentos. Mas ainda sim acho exagerado. Eles nivelam por cima, já que existem muitas pessoas que ganham realmente muito dinheiro. Com um salário mínimo (cerca 6 mil reais) não existe vida social, é uma vida de sacrifícios.

– Quais os pontos positivos e negativos de morar nesse país?
Positivos: segurança, saúde, educação, transporte público e coisas assim.
Negativos: não é Brasil, faz muito frio e não tem praia. 🙂

– Qual a curiosidade que mais te chama a atenção nesse país?
São as casas sem grades nem muros. È algo que falo sempre, mas quando penso nas casas cheias de sistemas de seguranças, muros altíssimos e tudo mais em países sem segurança, me sinto mal. Eu vivo sem grades, sem muros… casas com janelas no térreo e que muitas vezes ficam abertas! O medo é algo muito ruim e aqui – ainda – não impera. Ah, e o chocolate aqui é realmente MUITO bom! 😀

– O país que você reside tem alguma coisa que é usado no dia a dia que você acha que seria interessante ser implementado no Brasil?
A coisa mais sensacional que acho da Suíça é a questão das línguas. Alguns jogadores da seleção de futebol da Suíça, por exemplo, não conseguem se comunicar! Falam alemão, francês, italiano… e claro que não são todos que falam todas as línguas. Acho que essa questão da consciência de aprendizado de outras línguas deveria ser algo mais batalhado no Brasil, pois permite que ainda mais portas se abram ao turismo e à cultura! Eu falo 3 línguas e me sinto analfabeto aqui 🙂

– Você tem sugestões ou dicas para pessoas que pretendem viver nesse país?
Não venha com a ilusão de que aqui é um paraíso, que é fácil ganhar dinheiro. Não é! Acho que se existisse um lugar assim já teria sido invadido por brasileiros e outros povos que correm o mundo atrás de um pé-de-meia! Para passear é um país super legal, mas não por muito tempo. A Suíça é muito pequena, em algumas poucas horas de carro você pode cruzar o país inteiro. Tem os contrastes nas estações do ano, mas em um modo geral é um ótimo lugar pra se viver! Quando me perguntam sobre destinos eu falo sempre de Austrália, é inevitável. Acho um país incrível, uma bela mistura do estilo de vida do Brasil com a segurança Suíça! Se não fosse pela minha esposa acho que dificilmente estaria morando aqui. Se decidir vir morar aqui não deixe de tomar uma cerveja aqui! 🙂
– Se pudesse descrever em uma palavra a experiencia que esta vivendo nesse país, qual seria?
Destino.

– Você gostaria de recomendar algum web site ou blog relacionado à esse país?
Já escrevi tanto sobre a Suíça que fiz um post com uma coletânea dos textos (leia aqui).
Além do meu blog  http://www.rodandopelomundo.com/ e twitter @rodandopelomundo , posso recomendar:
http://www.elaeamericana.net/  : @lianasos fala sobre a sua vida na Suíça,
http://www.viagemeviagens.com/  : @clarissacomim também compartilha suas experiências,
http://www.suicasingular.com.br : Centro oficial do Turismo da Suíça no Brasil,
http://suicadetrem.com.br : projeto do Switzerland Tourism Brasil para informar o turista brasileiro sobre a melhor maneira de viajar pela Suíça)
e muitos outros ótimos blogs!

15 Respostas

  1. Delícia de entrevista, é sempre boms aber um pouco + dos amigos viajantes.
    beijos

    • Oi Paty! Legal que curtiu a entrevista, achei bem legal essa experiência e fico feliz também de poder compartilhar um pouco mais do meu mundo! Se bem que a gente se conhece já da tanto tempo que você deve me conhecer melhor do que muito amigo de infância! uhahuauhauhuha bjosss

  2. Gostosa mesmo essa entrevista, amei!

  3. Adorei a sua entrevista. Morei na Alemanha durante 2 anos e voltei a morar no Brasil no final de dezembro. Concordo plenamente quando você diz que no Brasil a segurança é complicada, mas como vc mesmo diz no frio a gente fica só dentro de casa e para sair ai ai ai. Sem falar que o frio durante quase o ano todo. Fora a saudade da praia e sol. Bom eu me sentia muito presa na Alemanha e olha que durante estes 2 anos eu conheci praticamente vários Países(Inglaterra/Portugal/Espanha/Suíca/Aústria/Grécia/Holanda/Bélgica/Praga e outros), se não tivesse viajado tanto não conseguiria viver em um País com tanto frio. Mas valeu a experiência. Boa sorte para vcs.

    • Oi Meire! Realmente só conhecendo o “lado obscuro” do inverno para valorizar o clima perfeito que temos no Brasil! Estou curtindo o máximo que posso o verão suíço porque sei que jajá ele me abandona! hauhuauhauha legal também saber que conseguiu viajar bastante por aqui, as distâncias aqui são relativamente curtas e é uma grande vantagem da Europa!! Paz!!!

  4. Michel,

    Show de bola de entrevista…amei!!!

    Parabéns pela filhota que esta a caminho.

    Abraços da Terra dos Tamancos,

    • Oi Vivian, fico felizão de saber que curtiu a entrevista e obrigado demais pelos parabéns!! O nascimento da gringuinha se aproxima sempre mais e estamos muito felizes!!! Tudo de bom pra vocês e um abração!! Michel

  5. Realmente não se pode ter só coisas boas ,imagine,Suiça,com sol,praia,bons empregos, segurança,saude,moradia ,varios idiomas,acho que estaria super povoada…….

    • Fala David, beleza? Realmente Suíça com todas as coisas aí eu não trocaria tão facilmente! uhauhahuahu mas achar um lugar assim é possível, basta ir pra Austrália!!! Abração!

      • obrigado pelo retorno,estou planejando ir morar na Nova Zelandia,no próximo ano,e é mais tranquilo para entrar do que Australia.
        Muita sorte e felicidades a voce e aos seus…te cuida

  6. […] pra divulgar uma entrevista minha publicada no blog “Entrevistando Expatriados” e o meu depoimento sobre a Austrália no site da Information […]

  7. PARABÉNS pela iniciativa de entrevistar expatriados.

    Histórias de vida como essa incentiva novos viajantes.

    Abraços

    • Valeu Guilherme, foi um prazer participar de um projeto tão legal e saber que posso incentivar novos aventureiros! Boa sorte nas tuas aventuras, grande abraço! Michel

  8. Parabéns pela entervista!! Sou Coach de Carreira, formado pela ICC (International Coaching Community), e atualmente estou desenvolvendo um projeto chamado Global Coaching, onde atendo brasileiros que vivem fora do Brasil. O processo acontece por meio de 10 sessões via Skype e é gratuito. Tendo interesse, favor entrar em contato!

Deixe uma resposta para Michel Cancelar resposta